Editorial

Um aceno para fora das bolhas

A popularização das redes sociais, sobretudo nos últimos anos em que os smartphones deram amplo acesso a elas nas diferentes camadas da sociedade brasileira, trouxe junto o tão falado fenômeno das chamadas "bolhas". Na prática e de forma resumida, com o ambiente virtual ganhando cada vez mais espaço no debate público e as pessoas dedicando amplos tempo e importância ao que é debatido nas plataformas, o contato com as diferentes opiniões e visões tornou-se reduzido. Quase nulo diante da estratégia dos algoritmos de prender a audiência àquilo que ela quer ver. Foi uma questão de (pouco) tempo para que isso se refletisse na política e, em grande medida, levasse comunidades ao redor do mundo a experimentar o radicalismo e a polarização. Não faltam estudiosos sobre o tema e um Editorial seria incapaz de aprofundar da forma merecida.

Fato é que o resultado das urnas no Brasil e no Rio Grande do Sul indica algo diferente, uma mudança - e, porque não?, correção - de rumos no que diz respeito à relação que a política tem com a sociedade. Se até bem pouco tempo atrás os agentes públicos e candidatos dedicavam-se apenas a construir uma grande bolha e somente a ela dirigirem suas atenções e propostas, os milhões de eleitores que foram às urnas no domingo indicaram certo cansaço.

A disputa nacional é exemplo disso. Nem Bolsonaro (PL), nem Lula (PT) podem ser classificados como candidatos dos sonhos do povo brasileiro. Fosse assim, a eleição não teria tido como mote a rejeição, com um e outro usando mais o desgaste do adversário do que os próprios méritos para somar votos. Ainda assim, em meio a esse cenário, foi decisiva a diferença de postura entre ambos quando se fala em discurso e postura de futuro. Enquanto o petista articulou-se com campos fora da esquerda e abriu espaços a estes setores para que tenham ampla influência e participação no seu programa de governo, o atual presidente optou por manter-se isolado. O tempo todo falou ao seu cercadinho, aos apoiadores mais radicais. Não esforçou-se para ouvir e atender quem pensa diferente. Difícil saber, mas é possível que um pequeno esforço no sentido de manter diálogo com outros pensamentos e propostas pudesse lhe trazer resultado diferente nas urnas.

Algo parecido com o Estado, onde a agressividade - e a falta de projetos claros - fez com que Onyx Lorenzoni (PL) sofresse a virada. Eduardo Leite (PSDB) soube alinhar seu discurso e campanha em torno de um projeto amplo que, mesmo com diferenças programáticas de adversários, reuniu grupos em torno de seu nome que, há poucos meses atrás, jamais cogitariam elegê-lo.
A eleição de 2022 parece ter deixado algo como lição importante a quem precisa governar para todos.

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